Este Lugar - Momento 2


Já teve a sensação de que muitas vezes as coisas acontecem por si só em nossas vidas, como se já fossem para ser daquele modo? Não importa a idade ou lugar, sempre nos deparamos com essa sensação, tudo o que podemos fazer é torcer para que aconteçam coisas boas desse modo, já que para muita gente só acontecem coisas ruins sem que elas possam evitar.
            Deve estar se perguntando o porquê de eu estar dizendo tudo isso, afinal são apenas pensamentos vagos que a princípio não tem haver com a minha história até então apresentada. Na verdade existe um motivo plausível para isto sim, e é voltando ao contexto da trama que podemos entender.
            Enquanto terminava de comer a pequena e caprichada refeição que o dono daquele pequeno café me preparara, acabamos conversando um pouco e este me indicou diversos lugares onde eu poderia me hospedar, incluindo uma pensão que sua própria irmã gerenciava que ficava no outro lado da pequena e pacata cidade do interior:
            - Tenho certeza de que vai gostar se ficar na pensão da mana. É baratinho e confortável, posso até ligar para ela adiantando-lhe que vai procurá-la, que tal? – sugeriu o prestativo homem despertando mais uma vez minhas observações sobre as diferenças entre pessoas da metrópole e pessoas daquele interior esquecido.
            - Ora.... seria perfeito! – eu concordei feliz da vida, era mesmo verdade que não teria mais que passar dias sem ter onde ficar? Só podia mesmo estar numa obra de ficção, quer dizer, numa aventura que mais parecia uma ficção de tão interessante.
            Terminei de comer enquanto o homem fora realizar a tal ligação para sua irmã. Pacientemente eu esperei vários minutos pelo retorno dele, aproveitei e peguei um mangá para me distrair, este ela novo, ainda estava na primeira edição nas bancas da metrópole e provavelmente ainda demoraria uns meses para chegar nessa cidadezinha, alias, se é que esse lugar conhece o que são mangá. Esta era mais uma obra de ação como tantas outras produzidas em toneladas no Japão, mas como era um hobbie que possuía, valia comprar ao menos a primeira edição, achava incorreto apenas baixar pela internet tirando o dinheiro do pobre autor que se dedicava a aquilo. Cada um tem seu meio de marcar o mundo afinal, apesar de que ainda preferia seu próprio modo:
            - Perdoe-me pela demora, estava vendo algumas coisas do café. – pediu o bom homem exibindo seu aparentemente inevitável sorris simpático.
            - Tudo bem, não demorou muito. – respondi sem querer alongar a conversa. Acho que ainda estou no ritmo da metrópole onde as pessoas não gostam nem falam com ninguém pela rua.
            - Mas tome, este aqui é o endereço da pensão. – continuou o homem entregando-me um papelzinho onde acabara de anotar o endereço. Estendi a mão e peguei a informação, incrível como ainda existe papel e caneta no mundo.
            - Hm.... acho que será mais fácil eu pegar um taxi, já que não conheço nada por aqui.
            Despedir-me do agradável dono do café, quem eu nem ao menos me dei o trabalho de perguntar o nome (nossa, ainda existe educação né? Melhor me lembrar de usá-la às vezes) e arrastei minha bagagem para o lado de fora da estação de trem. Por sorte havia um jovem taxista olhando o tempo passar (o que deve dar muito tédio numa cidade onde parece que ele anda bem devagar).
            Nossa, esse segundo capitulo ta mesmo um grande tédio, não se é impressão minha por ser um dia de domingo tedioso como todos, mas acho que quem está acompanhando isso concorda, o que torna uma pura verdade. Pelo menos ainda aconteceu algo de útil antes desse capítulo supérfluo acabar:
            - Sabe moça, acho que vai gostar daqui, é uma ótima cidade. – dizia o motorista sardento puxando conversa. Acho que taxistas são uma raça que nunca muda, não importa o lugar do planeta onde se esteja.
            - Também tenho essa impressão. – respondi com um tom meio seco e sem emoção. O garoto pensou durante alguns segundos, procurando uma nova brecha para puxar conversa quando meu celular tocou alto do bolso do casaco fino que eu usava, graças aos céus.
            - Alô?
            - Jenny, já chegou na cidade? – perguntou uma voz masculina com o mesmo tom apressado de sempre. Alias, prazer, me chamo Jennifer.
            - A mais ou menos uma hora.
            - Por que não me avisou? Eu ia buscá-la ai!
            - Calma, estou a caminho de uma pensão onde me hospedarei.
            - Ora, então já conseguiu até onde ficar? Não é a toa que dizem que você é uma pessoa muito adiantada.
            Se eu não fosse acostumada acharia estranho eu manter uma conversa num tom tão informal com alguém que nunca vi de verdade, eu e Carlos, esse sujeito apressado ai, nos conhecemos apenas pelos sistemas de comunicação do Grupo a mais ou menos dois meses, quando eu descobri que seria transferida para aquela cidade:
            - Já, tive sorte. Quando vamos nos encontrar? – levei a conversa para o tom mais prático para tentar despertar meu cérebro que estava começando a entorpecer com o tédio de domingo.
            - Se for bom para você, amanhã mesmo. Estou ansioso para que a conheça. Ela não faz idéia do que a espera, mas já pude ver que tem um grande talento.
            A voz de Carlos pareceu ficar ainda mais ansiosa quando falou dessa tal “ela”:
            - Então é uma mulher?
            - Na verdade uma jovem mulher, ela tem 20 anos apenas.
            - Que ótimo, ensinarei uma criança... – comentei sarcasticamente, ensinar uma criança, que bela porcaria.
             - Criança? Ela é mais velha que você!
            - Não me compare a outras pessoas com a minha faixa etária, sabe que é ilógico. – respondo secamente.
            - Er.... ta bem, eu sei que você é diferente Jenny. Mas sabe que é muito incomum alguém com menos de 30 anos entrar no Grupo.
            - Não precisava me lembrar de que você é um velho Carlos, acabou com suas chances de eu te convidar pra sair.
            - HEIN?! V-v-você ia mesmo?! – engasgou o homem do outro lado da linha.
            - Claro que não idiota, estou só zombando da tua cara obviamente. – realmente adoro controlar minhas emoções a ponto de parecer não possuí-las, torna esses momentos de sarcasmo mais divertidos.
            - Ora.....
            - Não fique desapontado, quem sabe consiga tirar uma casquinha da novata.
            - Você não tem escrúpulos não?!
            - Estou apenas sendo realista, ora.....
            - OK, eu te mando por email o local onde nos encontraremos amanhã. Dorme direito para não destruir a novata com esse seu sarcasmo intragável garota!
            - Claro, vou tentar maneiras com a criança de fraldas.
            - Jya! – e desligou na minha cara. Adoro ser chata muitas vezes!
            Apenas depois de alguns minutos que me toquei que o motorista de taxi tinha ficado quieto. Teria se assustado com meu modo de falar? Vai dizer que as pessoas do interior não estão acostumadas a piadas extremamente sarcásticas e venenosas entre amigos? Que saco! Se a pirralha que for ensinar os macetes do Grupo for tão sem graça quando aquele taxista, provavelmente o treinamento seria um fracasso, eu é que não vou agüentar uma criança resmungona.
            Incrível como ao fim do segundo capitulo todas as minhas esperanças de uma aventura emocionante e única já havia desaparecido.

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